No domingo (13), compareci ao festival de projeção mapeada SSA Mapping, na Praça Maria Felipa, em Salvador. Nesta edição do evento, obras de artistas de diversos lugares do Brasil e do mundo divertiram e deslumbraram o público no final de semana do Dia das Crianças. Projeções interativas espalhadas pela praça ajudaram a atrair o público para o momento da mostra principal, que projetou vídeos mapeados sobre a fachada de entrada do Mercado Modelo.
Foi minha primeira vez atendendo ao festival e fiquei impressionado com a estrutura necessária para realizar as projeções. Durante o tempo que passei no evento, fiquei procurando onde estavam os projetores, tentando entender as posições e ângulos para encontrar o encaixe perfeito nos edifícios da cidade.
A mostra principal foi dividida em blocos, permeados por comentários e homenagens dos organizadores do festival. Artistas da Bahia assinaram várias das obras projetadas, mas muitos artistas de fora também estavam presentes entre os expostos. Normalmente, essa separação por origem dos artistas não faria tanta diferença na minha recepção do festival, em geral, mas resolvi ressaltar esse ponto, porque um padrão se repetiu e, a partir dele, refleti sobre representação, organização e curadoria. Estou falando de uma presença extremamente marcante e perceptível, dentre as obras selecionadas: a inteligência artificial.Dentre os trabalhos que utilizaram a inteligência artificial para produzir imagens, muitos resultaram em imagens estereotipadas de cartões postais e do povo baianos. Em contraste com obras de teor mais político, que denunciavam, por exemplo, a negligência com o Centro Antigo de Salvador, ou que exaltavam locais e eventos da cultura popular, como a Feira de São Joaquim e o Carnaval de Rua, as ilustrações artificiais ficaram aquém e deixaram uma impressão tosca. Foi notável a discrepância em conexão com o público e qualidade representativa entre os trabalhos que não utilizaram a IA (pelo menos, não de forma tão aparente e despreocupada quanto outros) e que conseguiram ser contemplados com, presumidamente, períodos próximos de preparação.
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Mercado Modelo - SSA Mapping, 2024 |
Em geral, fiquei feliz de ver um festival que, literalmente, desse luz a marcos históricos da cidade com símbolos e mensagens políticas importantes, principalmente por ser um evento gratuito e acessível. Mesmo com uma seleção questionável, estou animado para acompanhar as próximas edições e torço para que o festival dê cada vez mais projeção (trocadilho não intencional) aos artistas locais que merecem ter suas artes expostas em espaços tão significativos.
Miguel Gouvêa Lordello
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